terça-feira, 9 de agosto de 2011

Lago



No lago de névoas cinza
um pássaro instala-se no olhar
numa pedra saliente do silêncio.
Eu sinto-me intruso inócuo
Até que, de súbito, só eu o vejo,
respiro-o no coração ardente.

(...aj c.)




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sábado, 6 de agosto de 2011

Bailado

Bailo no ar que me habita
o amor, o sonho e o verbo
movimento, tempo, fisica de Deus
na linha que encurva o caminho
no céu que atrai o astro
na vida, jogo de criança.

...aj c.


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quarta-feira, 18 de maio de 2011

À noite com Job

À noite com Job,
sob o céu de Calar Alto

Como um Deus incompreensível
confundido pela própria
argumentação
perguntando: “Onde é que eu ia?”

Como uma pergunta
a que só é possível responder
com novas perguntas.

Como vozes ao longe discutindo:
“Alguma vez deste ordens à manhã,
ou indicaste à aurora o seu lugar?”

Como um filme
em que tudo acontecesse
na escuridão do espectador.

Como o clarão da noite última
e vazia que abraça pela cintura
a jovem luz do dia.

Manuel António Pina, Público, 13-05-2011, p. 4

domingo, 15 de maio de 2011

quase

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se enlaçou mas não voou...
Momentos de alma que, desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

terça-feira, 10 de maio de 2011

À vida

À vida


É vão o amor, o ódio, ou o desdém;
Inútil o desejo e o sentimento...
Lançar um grande amor aos pés de alguém
O mesmo é que lançar flores ao vento!

Todos somos no mundo "Pedro Sem",
Uma alegria é feita dum tormento,
Um riso é sempre o eco dum lamento,
Sabe-se lá um beijo de onde vem!

A mais nobre ilusão morre... desfaz-se...
Uma saudade morta em nós renasce
Que no mesmo momento é já perdida...

Amar-te a vida inteira eu não podia,
A gente esquece sempre o bom de um dia.
Que queres, meu Amor, se é isto a vida!


Florbela Espanca

domingo, 24 de abril de 2011

Homem produto casual da evolução?

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"Se o Homem fosse somente um produto casual da evolução num determinada margem do universo, então a sua vida não faria sentido ou seria até um incómodo da natureza. A razão [para a criação do Homem] está no começo: é uma razão divina", afirmou o papa.

Bento XVI realçou ainda que Deus é o criador, o que pode "garantir vida eterna" e assegurou também que "no começo de todas as coisas está o amor e a liberdade".

A Igreja, acrescentou, não é uma associação que se ocupe das "necessidades religiosas dos homens, antes uma maneira de conduzir o Homem ao encontro com Deus".

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